quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Joaquim, O Igual



Quantas condenações um homem precisa decretar para sair da condição de inimigo racial para a de reparador-geral da República Multicor Brasileira? Quem assiste ao julgamento do mensalão no STF mal tem dedos suficientes para contar. A eloquência condenatória do ministro Joaquim o eleva, dia após dia, à condição de alma cívica que deixou as catacumbas do silêncio imposto às minorias atrevidas e vai galgando, qual um preconceito apressado a cavalgar um cavalo branco, as alturas do estrelato da conveniência. Tivemos o espetáculo do crescimento e agora temos o show da Justiça. Chegou a hora de passar o Brasil a limpo - e se o primeiro balde de água sanitária queimar as toxinas que o PT espalhou por aí, tanto melhor. Quem quer saber do custo da campanha eleitoral que resultou em dois mandatos que enfim colocariam o país no eixo das possibilidades gerais, inclusive para a minoria cujo representante hoje lhe serve de chicote jurídico?

Sim, ó sim, a Justiça (a brasileira, sobretudo) tem que ser cega, agir numa espécie de escuridão que lhe permite ser tão severa quanto possível for. E é isso o que Joaquim, O Novo Igual entre nós e a imprensa mainstream, tem feito. Só isso: de tanto despolitizar as circunstâncias dos criminosos, termina por repolitizar tudo. Ele e seus pares, beijinhos e carinhos sem fim à parte. Neste caso, um recorte leva ao outro: e não é de estranhar, afinal estamos num país em construção chamado Brasil, cujas fraturas não deixaram de ficar expostas graças a um julgamento transmitido em tempo real. O presente vingativo e espetaculoso da TV Justiça não tira de cartaz o país real que um certo condenado em especial vinha ajudando a refazer. Aguardem as cenas dos próximos capítulos para testar a nova jurisprudência do olho by olho.

Condenados à parte e inocentes abstraídos, emerge de tudo o novo mito vivo chamado Joaquim, O Igual. Diante dele e de sua prédica no julgamento, temos o tempo todo a impressão de estar vivendo dentro de um livro pop-irônico de Tom Wolfe. Nâo há escritor melhor para perfilar, com as cores das contradições mais ofuscantes, o caso do menino pobre reportado pela revista rica que representa o conservadorismo político no Brasil. Somente ele e sua contrarreforma política à maneira do Judiciário para fazer aquela revista rever seus conceitos e colocar a conveniência na frente da parcialidade. Joaquim, O Igual, é o marco zero da Justiça brazuca. Depois dele, nada será como antes. Ele é a cota que cabe, na medida certa admitida pelo atraso esclarecido. Para que todos os brasileiros sejam iguais, é preciso que tenham no mínimo a estatura Dele. Ao menos, claro, na breve eternidade que vai reger o país enquanto Ele durar.