sexta-feira, 28 de abril de 2017

Pare

Enquanto é tempo. Mais será que ainda dá?

Na verdade, a gente devia ter parado há muito tempo. Logo na primeira hora, quando o português inicial abordou o índio original. Diante dos espelhinhos reluzentes, este poderia ter respondido àquele: - No, thanks. Além de antecipadamente bilíngue, seria um eticamente excelente ponto de partida para o que se chamaria Brazil - ops, Brasil.

Outras oportunidades de parar vieram e não aproveitamos. Na independência, ante aquele arranjo que se de um lado continha as arrogantes cortes de Lisboa mas por outro mantinha aqui um dos seus principais representantes, poderíamos ter dito: - Peraí, Pedro. Para tudo e vamos organizar essa soberania direito.

Muito antes disso, quando D. João III inventou aquelas que seriam a semente de tanto patrimonialismo no futuro Brasil - as tais Capitanias Hereditárias - algum conselheiro real, se não por interesse próprio ao menos por algum desconfiômetro natural, poderia ter tido: - Para, meu rey. Além de não dar certo, isso pode dar muito errado. Na escola aprendemos que só duas deram certo - Pernambuco e São Vicente, pois não? E por aí paramos. Neste caso, deveríamos ter ido adiante e estudado mais para ver se, no futuro, homens e mulheres feitos e estudados, conseguiríamos parar a roda que as capitanias puderam para, por assim dizer, funcionar. 

Quando as Diretas Já não passaram no Legislativo, em 25 de abril de 1984, o que deveríamos ter feito ao invés de embarcar na canoa parada da tal Nova República? Parado tudo. Naquela época nem era tão estanho assim - faltava foco, para usar uma palavra muito ao gosto de gente que não gosta de parar. 

Quando Tancredo parou de funcionar como organismo vivo e ser humano pensante em cima do momento da posse como presidente escolhido indiretamente num arranjo que não fora parado em tempo o quê deveríamos ter feito? Parado tudo. Quando Sarney emburrou e bateu o pezinho amuado exigindo 5 anos de mantato? Para tudo.
Quando o Plano Real começou a fazer água na confluência nem um pouco parada dos interesses do galinheiro das finanças com a nossa eterna bagunça política em tempos de ACM, era pra gente fazer o quê? Parar tudo. Vamos repensar. Neste caso, de certa forma, até que o fizemos.

Lula se elegeu finalmente - fora "parado" tantas vezes antes - e veio o processo geral da redistribuição de renda. Mas nem Lula foi capaz de parar os mecanismos gerais do sistema - e se não fora ele, não dá pra acreditar que nem um dos demais seria. Porque, se a velha ordem definitivamente está morrendo, Lula foi o que de melhor ela produziu. Faltou o quê a Lula e ao PT? Fazer mais? Necas. Faltou parar.

Parar certos mecanismos que se para outros - falo dos demais partidos, tradicionais grupos políticos e econômicos - eram aceitos, jamais o seriam para uma legenda partidária que veio da pobre base social do país. Faltou Lula e o PT dizerem, no primeiro dia de governo: - Parou. 

Antes mesmo, já na primeira negociação do primeiro custo de campanha: - Para, para, para que desse jeito não é mais possível.

E assim fomos, sem parar.

Até o dia de hoje. 

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