terça-feira, 13 de março de 2018

TV PIRADA







Socorro! Tem uma televisão maluca me perseguindo! Eu corro prum lado, ela vem atrás; giro nos calcanhares pensando que vou escapar a tempo e eis que a TV pirada me aparece bem no meio do caminho. O que será? Um deus, um avião, um campeão de audiência, um supercomputador, o Superman? Não, é a NET que, agora associada à Claro, que empurrar aos clientes um pacote conjunto com o que parece ser o pior que as duas companhias têm – imagine uma montanha de defeitos, detritos, irritações, mudanças não previstas em contratos e afins empilhados até o limite do céu, qual uma torre de babel burocrático-comercial que faz você – o cliente – parecer um pontinho no chão, humilhado por esse gingante de arrogância empresarial.

Sou um fanático consumidor de televisão, que foi o computador e o videogame da minha geração. Hoje, vejo quase nada de televisão no horário e na grade convencional. Trabalho num canal de TV, o que já é meio caminho andado para sentir um quê de obrigação cada vez que ligo um aparelho. Mas gosto do “pacote” da NET porque ela me permite ao menos usar recursos do serviço on demand, distribuindo o que me interessa ao longo dos horários em que estou disponível pra mim mesmo – quem hoje pode dizer que é, va-lá, uns 50% disponíveis para si mesmo, hein?

Então: de uns tempos pra cá, dona Net, que era uma mulher moderna, cheia de GNTs, multishows e outros atrativos canais de sedução, caiu numa vala comum que a linguagem empresarial chama genericamente de “mudança de gestão”. Apossaram-se da outrora elegante dona Net uns executivos de pó de nada, do tipo que quanto mais vazios mais arrogantes são, e, firmando um acordo com a telefônica já citada aqui neste documento fracassado, passou a querer empurrar à força aos clientes o consumo associado das duas marcas. Anotem: além de não conseguir ampliar essa cartela de novos clientes, correm o risco de perderem os antigos, como eu, seduzidos há mais de uma década. (parênteses: converse com um desses garotos que trabalham na instalação do sistema em sua casa e veja se ele também não tem, de uns tempos pra cá, tanto motivo de reclamação quanto você. Fim do parênteses)

O que mais espanta – e preciso registrar aqui para mostrar que não se trata de mera reclamação de consumidor, mas daquele tal algo mais que merece ser dito com ênfase maior – é o treinamento que deram ao novo call center da NET-Claro, infelizmente instalado em Recife, o que nos obriga a ser grosseiros com aquela gente tão interessante como são os pernambucanos. Compadeço-me das moças e rapazes que por força da necessidade precisam desse emprego, mas quando um deles – como ocorreu hoje – liga pra me oferecer o pacote NET-Claro pela milésima vez (pacote que Rejane já tentou usar e revelou-se uma armadilha ao consumidor) – não há como não sentir o nível de irritação subir até o cliente de dez anos não ter outra saída a não ser bater o telefone diante do funcionário do call center.

Porque eles são condicionados a sempre ter uma pergunta engatilhada de forma a, apelando ao fim da paciência do interlocutor, acabar convencendo-o a aderir ao que quer que seja. Ou, bem pior: responder à sua resposta com nova pergunta que jamais deveria ser feita quando se trata de seduzir quem está do outro lado da linha – “por que não deseja o novo serviço?” (em tom de cobrança absoluta, por favor). E vai além: “se não conhece o serviço como é que pode dizer que é ruim?”

É a massa classe C empregada pelo novo estrategista empresarial do Brasil almofadinha dando aula grátis de como subestimar o seu mercado potencial. Para ele, não existe vida inteligente do outro lado do balcão que resista a uma conversinha toda codificada previamente. Ao cliente não resta alternativa a não ser revalidar aquela resposta que no mundo infantil não terá qualquer validade mas aqui ressurge coberta de motivos: “porque não”. E chega.

E é isso o que o registro deseja cravar: chegamos a tal ponto nas relações de mercado, na seara da compra e venda, no vale tudo das liquidações do bom senso que, em terreno completamente livre de regulação e absolutamente liberado de fiscalização, viramos todos reféns da nossas diversões eletrônicas, das nossas relações virtuais, do grande cerco do irmão capital. A NET-Claro é só um braço, another brick in the wall.


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